Na sala de espera do meu ginecologista, junto aos folhetos explicativos e umas duas grávidas, encontrei um jornaleco religioso sobre saúde, e essa edição tinha como discussão central o aborto. Eu que adoro polêmicas fui degustá-lo, e ainda não consegui digerir, daí a razão desse post.
Mais parecia um tablóide medieval encontrado numa igreja, atrás das fogueiras que queimavam bruxas. Como eram textos radicais, tentei enxergar através da proposta. Li pérolas como ”o aborto não é uma questão sobre a qual a mulher tem direito de escolher”. Êxodo21:22-25, “Deus dá a mesma punição a alguém que comete um homicídio a quem causa a morte de um bebê no útero”. Ok, fundamentalismos à parte, e se a vida da mãe estiver em risco?
A legislação permite que seja feito o aborto de um filho programado, que por desencontros biológicos se tornou fatal para seus responsáveis. Me parece no mínimo digno. E parece digno à teologia cristã (citação presente no jornalzinho) que “Deus é capaz de realizar milagres, preservando as vidas de uma mãe e da sua criança, apesar de todos os indícios médicos contra isso”. Desculpem, isso parece lavagem cerebral.
E o que me assustou mesmo foi saber que abortar um filho resultante de estupro seria um duplo erro, já que a ‘criança’ nada tem a ver com os “atos malignos de seu pai” – mas a mãe tem né? Por isso ela tem o ‘dever’ de carregar ‘seja-lá-o-que-estiver-na-barriga’, pari-lo e criá-lo. Ah, nesse caso ela pode doá-lo, que nem cachorro. Já diz Nando Reis,“não vou me adaptar”. Eu também não.
Posto aqui a minha tristeza profunda e indisgestão intensa. Sou incapaz de enxergar o mundo através dessa ótica e menos ainda de compactuar com ela. É exatamente esse tipo de pensamento machista, retrógrado, alienador e ilusório que aliado à moral relativista aumenta o número de mulheres mortas em clínicas de aborto clandestinas.
Perseverar nisso, atrasa qualquer tipo de tentativa de avanço.
A favor da bárbárie, avante úteros! Só não esqueçam do anticoncepcional…
Cansei de ser Poliana…